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Posso não ter unhas. Posso ter apenas restos de sanidade mental e, com sorte, algum equilíbrio que o valha. Posso ter vinho a encharcar-me o estômago e o rosto seco tal o sal das lágrimas. Posso ter os ouvidos exaustos (e deprimidos) de tanta melancolia musical ou a vista cansada de tanta poesia de cortar à faca. Posso ter o cérebro frouxo, tais os pensamentos nublosos que me assomam, e o coração certamente meio morto. Atrofiado. Posso ter folgas nas calças, cabelos fora do sítio, maquilhagem despreocupadamente colocada. Posso ter sombras nos olhos moribundos ou o sono assassinado com as tuas lembranças (consecutivas), interrompendo qualquer tipo de "dorme bem". Posso ter tudo isso que me faz pensar não ter nada. Posso não te ter, que é um facto. Não te tenho, não nos temos - para não pôr toda a carga da culpa em ti. Mas caramba, posso devo ter amor pela vida. Ainda que não tenha unhas, sanidade, equilíbrio. Ainda que tenha vinho a mais, lágrimas, melancolia, gelo (ao invés de coração). Ainda que não tenha calças que me moldem um corpo atrofiado e carente de ti.ainda que não tenha vontade, sorriso, brilho, paixão (à vida). Ainda que não tenha fé (no amor), e que mal e porcamente acredite num "viveram felizes para sempre", porra, como tenho de ter amor à minha vida. (não ligaste). Posso não ter nada, mas tenho uma vida maior que o nada. Tenho uma réstia de esperança que existe sempre algo maior que aquilo que não posso. Que, julgo, não aguentar, não poder. (sempre pensando em ti).


(Anonymous)

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