Crimes Contra Mulheres


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"2012 foi um Annus Horribilis para as mulheres. Por onde começar? Talvez por Malala, a menina paquistanesa do vale do Swat que ficou com o cérebro desfeito e a cara deformada pelo tiro de um talibã, por se ter batido pelo direito de estudar. [...] Ou por Sharifa, que vive num campo de refugiados da Síria. perdeu a perna quando a casa onde vivia foi bombardeada. Numa tenda de plástico, com as mãos gretadas e as unhas partidas e sujas, Sharifa diz que já não quer brincar, quer voltar a andar. [...]
Em Sapeacu, no Brasil, Rebeca Bernardo vive num casebre. A mãe teve um acidente vascular e ficou paralisada, nem catre. Rebeca não acabou a escola e foi vendedora de cosméticos e criada de mesa. Os 150 reais de salário não davam para pagar a quem tomasse conta da mãe. É ela quem a vira, alimenta à colher. Nunca conheceu o pai e uma irmã morreu. Com 18 anos, Rebeca filmou-se no YouTube, com um top cor de rosa, leiloando a virgindade. [...] O vídeo teve 3 mil hits no primeiro dia. Rebeca usou o computador de um amigo. Uma cadeia de televisão ofereceu-se para pagar as despesas médicas da mãe, mas ela respondeu que queria também uma casa noutro lugar para poder mudar de vida. Em Sapeacu, tratavam-na como galdéria. Atiravam-lhe moedas. A atenção nacional gerou alguma simpatia. Rebeca chora na CNN e diz que não sabe o que fazer. Recebeu uma oferta de 70 mil reais. Entre acusadores e defensores está uma criança explorada que quis controlar a exploração.
Na Índia, só em 2011, houve mais de 24 mil violações registadas. Uma por cada 22 minutos. O número das não registadas é maior. Violar mulheres é um desporto nacional. A violação de Jyoti Singh Pandey, uma estudante que acabou por morrer das lesões num hospital de Singapura, mobilizou a sociedade civil num país de que só se fala como um exemplo de turismo exótico, Incredible India, ou de milagre económico. Na Índia da corrupção e miséria endémicas, subdesenvolvimento humano e ausência de direitos, a nova classe média despertou a sua complacência. [...] Enquanto Jyoti agonizava, outras mulheres suicidaram-se por causa de violações. No Paquistão e no Afeganistão, mulheres violadas podem ser condenadas a prisão, por terem manchado a honra e a religião. A violação por maridos e parentes é comum.
Nos Estados Unidos, numa festa de estudantes da universidade, uma rapariga apareceu num vídeo, embriagada , com os braços e as pernas agarrados por dois rapazes. A violação foi comentada num vídeo. O caso chegou ao tribunal e agora a violação tornou-se "consensual", segundo a defesa.
Em Portugal (e no resto do mundo), nos canais do cabo, todos os dias uma séries policial importada conta uma história de violência sexual e de género. As mulheres são alvo de serial killers, psicopatas, criminosos, assassinos, sádicos, torturadores. Ou dos namorados e maridos. A ficção banalizou o crime, tornou-o tão 'nomal' como o uso de mulheres na publicidade para vender carros e produtos. Em Portugal, todos os anos morrem mais de duas dezenas de vítimas de violência doméstica. A agressividade tem vindo a aumentar. As mulheres continuam a ser as vítimas principais do tráfico humano e das industrias da pornografia e da prostituição. O feminismo tradicional ignora largamente este estado de coisas e considera que o trabalho por direitos iguais acabou. Ainda mal começou."

- Clara Ferreira Alves, in 'Revista' Expresso




Mas que (triste) mundo é este em que vivemos??

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